Metamorfose

Espreitava pelas janelas a verificar o aconchego das salas, as lareiras acesas, os sofás, os candeeiros, os tecidos aveludados, por vezes entrevia as pessoas mas logo se escondia. Gostava também de longe apenas pressentir o calor que deveria existir nas casas de onde apenas lhe chegavam as luzes. Entristecia por não viver essa partilha que imaginava. Mas não era um desespero, era até doce, como um sonho em que ao acordar nos envolvemos nos cobertores à espera que volte ou tão só imaginando-lhe a continuidade e um final feliz como nos contos de fadas. Era uma vez... a fada Cristina que tinha um pó dourado mágico que tudo iluminava, era uma vez uma menina sem mãos que um rei amou e as mãos lhe voltaram a crescer, era uma vez um vagabundo que trilhava caminhos como os lobos selvagem e liberto…. Era uma vez….. Já não acreditava em Deus, a vida ensinara-lhe a não confiar. Mas ainda acreditava em fadas, em elfos, em duendes, na poesia e na música. Pegou no seu saxofone e deixou saír diferentes notas. Um dia ainda viria a ser virtuosa…. Ter esperança é bom Paula Almeida