quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Era uma vez, ,,,ou talvez não fosse uma vez, ... um prinipezinho

ERA UMA VEZ… UM PRINCIPEZINHO Era uma vez… Um principezinho, ou seria o mar? Será que existe alguma semelhança entre o mar e o principezinho? O ritual talvez… E o principezinho tinha o ritual de ir ver o mar todos os dias. Gostava de ficar-se à tardinha olhando o sol desaparecer e o acender das primeiras estrelas da noite. E o mar gostava dele, talvez por lhe ser tão fiel, talvez por gostar dos seus olhos castanhos calados e calmos. E então ia e vinha suavemente, tocando-lhe ao de leve nas pontas dos dedos descalços. Quietos se quedavam perante o apagar dos ruídos das gentes e o espectáculo de cor no céu. E a terra ia tomando um contorno cinzento, depois mais escuro, até se esborratar definitivamente com o céu e o mar, o mar agora apenas uma espuma clara aqui e ali rompendo a bruma que se estende. Então, ritual findo, o principezinho voltava lentamente para o palácio. E o principezinho ia seguindo pelo caminho de terra batida, apanhando um pauzito aqui e acolá, pontapeando uma pedra e outra, até chegar às escadas de mármore do seu palácio. Então passava o átrio e chegava à porta enorme da sala de jantar. Um comprido tapete dourado se estendia à sua frente e o principezinho imaginava-se sobre as ondas cintilantes do mar em direcção ao sol – o candelabro de duzentas e uma velas sobre a mesa. Sentava-se e em silêncio jantava. Era feliz o principezinho, embora melancólico. O principezinho era feliz mas tinha um grande problema: não tinha nada para fazer, não tinha de trabalhar pois era muito rico. Uma manhã dum bonito e suave, embora ténue do nevoeiro, nascer-do-sol, o principezinho na varanda, vendo a cidade lá em baixo, tão pequenina e cinzenta, agora a despertar, resolveu viajar. E assim lá foi descendo a enorme calçada em direcção às luzitas ainda cintilantes e resistentes da noite, cada vez mais baças do dia… E na cidade, já dia feito, viu carros, muitos carros a correr, buzinar, filas, gentes friorentas apressadas, casas, ruas atrás de ruas, uma confusão para um principezinho que vivia num palácio e todos os dias ia ver o mar. E seguiu adiante. E o principezinho andou, andou. Campos verdes ou castanhos, ou amarelos de espigas brilhando secas, pedrarias e montanhas, socalcos e vales, árvores altas e baixas, grossas e finas, flores de todas as cores, lagartos e passaritos, cães, raposas e porcos-espinhos, peixes em rios e ribeiros, rãs e sapos, homens, mulheres e crianças, dizendo e fazendo de variadas maneiras, … Parou, de repente. Porque tinha ele abandonado o seu castelo e o seu mar? Que tinha ele ido procurar no mundo e não achava? A felicidade pensava. Mas não era ele feliz, lá onde estava? E com o pensamento assim nublado adormeceu enfim. Então e o principezinho? Será que ainda está a dormir? Paula Almeida

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