sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

O ESCRAVO E O LEÃO FERIDO - Adaptação livre da fábula de Esopo 'O Leão e o Rato'

    Um escravo que sofria muito às mãos do seu senhor - que era um homem muito cruel- decidiu que tinha de fugir e voltar para Roma, que era a sua terra natal.
    Resolveu, então, que aguardaria por uma noite  de lua nova para se pôr a caminho do litoral na esperança de apanhar um barco que o levasse de volta.
    Uma noite, escura como o breu, cautelosamente, esgueirou-se entre as tendas e conseguiu fugir sem que os guardas do senhor se apercebessem.
    Sabendo que quanto mais distância pusesse entre ele e o acampamento menos probabilidade haveria de vir a ser apanhado, caminhou, tropeçou, rastejou durante duas noites e dois dias sem descansar, comer ou beber. Na terceira noite, completamente exaurido, descobriu uma gruta e ali se refugiou para dormir.
    Quando acordou, já o sol ia alto -  tal o cansaço - viu um leão imponente deitado a dormir perto da entrada da gruta. Metera-se no covil da fera! E agora não havia forma de sair dali. Apenas lhe restava aguardar pela morte às presas do leão. Angustiado, transido de medo, manteve-se estático no seu canto, de respiração suspensa, na esperança de que o leão não se apercebesse da sua presença e saísse para se alimentar. - Aproveitaria, então, para se escapar.
    As horas foram passando e nem o leão nem o escravo comiam.
    A dado momento, o homem apercebeu-se de que o leão, afinal, não estava a dormir. Ofegava como se estivesse doente e fazia uns ruídos semelhantes a lamúrias e queixas enquanto lambia uma das patas. A compaixão fê-lo esquecer-se de si e, muito lentamente, aproximou-se do leão - que não reagiu   selvaticamente - e com movimentos doces e murmúrios igualmente doces retirou da pata do leão um enorme pico que lá estava espetado e tratou-lhe da pata para debelar a infecção.
    Algum tempo depois, o leão saiu do covil e voltou com uma lebre que depositou aos pés do escravo. Este cozinhou o repasto para ambos. Após a refeição, já de noite, o leão logrou convencer o homem a acompanhá-lo até uma nascente de água fresca onde ambos nadaram e mataram a sede.
    Durante muitas noites e muitos dias, o escravo permaneceu ali, mas ansioso por partir para Roma.
    Um dia, após ter-se despedido do leão, pôs-se novamente a caminho.
    Por azar, uma patrulha romana que passava por perto, capturou-o e, como castigo por ter fugido, mandou-o para Roma, para o circo. Serviria de refeição às feras na arena das carnificinas para gáudio do imperador e senadores.
    Já na arena, apenas com uma lança para se defender, estonteado pelo ruído em volta, abriu-se uma jaula e dela saiu um enorme leão caçado recentemente e mantido sem comer durante uma semana como era hábito fazer-se naquela época. O escravo, de lança em riste, ficou na defensiva, disposto a tudo para não ser comido. .... Eis senão quando.... O leão, de cauda a abanar como se fora um cão contente, dirigiu-se ao escravo e lambeu-lhe a cabeça, o rosto, as mãos....
    O imperador de imediato mandou parar o espectáculo e chamou o escravo à sua presença. Este contou-lhe como havia ficado amigo do leão e o imperador, impressionado com tal história, perdoou ao escravo por ter fugido e tornou-o um homem livre. Como se não bastasse, deu-lhe o leão e ainda ouro em moedas para que recomeçasse a sua vida livre de grilhetas.
    Ainda hoje homem e leão passeiam livres e a par nas ruas de Roma.

1 comentário:

  1. ois e, Leões não faltam por ai , as feras?e os outros ,que comem tudo e não deixam nada ,assim cantava Vitorino ,sempre nos aparece uma alma boa ,que nos da o que nos precisamos, assim aconteceu a este lacaio, tanto medo mostrou da fera , e ficaram amigos ,os outros Leões que nos exploram ,não tem nem querem amizade, sao os que se armam em poderosos ,depois ficam mal ,quem não quer ser Leão não lhe veste a pele , como pode haver gente tão gananciosa , que não distribui o que lhe sobra ,por quem precisa ,la vai o ditado ,antes bichos do que gente ,eu conheço gente deste calibre ,pobres de mente
    MFátima Oliveira

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